




O projeto do movimento em PFdFSRi procura soluções sendo um mapa, um tratado que situa e define as possibilidades de existência do movimento e suas estratégias de sobrevivência em um dado ambiente. O ambiente, “pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente”, vai revelando suas fronteiras e condições ao mesmo tempo que o movimento propõe suas táticas de adaptação.
O movimento precisa reconhecer a natureza do estado do corpo e permitir que as interferências propostas pela coreografia produzam informações que reorganizem a continuidade do movimento proposto. Desta forma o que pretendemos como resultado final está mais vinculado à escuta do que sucede para construir sua verificação, do que a determinação do movimento em função da produção de uma imagem
Usamos a tecnologia como extensão do corpo. Isto inclui a maneira como pensamos nossa dança. Em PFdFSRi a utilização de sensores (câmeras, acelerômetro), robôs, programas de detecção de padrão, vídeo e sistemas de vjing; está vinculada as propriedades que estes elementos fornecem ao corpo e como este corpo responde a estes elementos através destas propriedades. Sistemas e programas foram desenvolvidos especialmente para atuarem no espetáculo, e contam com a participação do espectador para concluírem seus objetivos no palco.
“pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente” é uma fábula feita da colagem de ações, objetos, corpos, imagens e movimentos que se fortalecem das características que as definem para ganharem novos significados ao se inter-relacionarem. Um músculo cansado, respirações ofegantes, peso do corpo, força bruta, vestígios de dança, um espantalho, um brinquedo, um soldado de chumbo, cavalos, expectativas, caixinhas de música, memória, tempo dilatado, saudades, o velho, vingança, liberdade e realidade. Um conto. O corpo procura parceiros para sua dança. A dança procura meios para perceber-se real. Ficção e realidade intercalam seus lugares e assim contam histórias. Peso e desequilíbrio como recurso de anti-vaidade, a autoria da ação divide assinaturas entre gravidade, ossos, músculos, cérebros e espectadores. Dança como vestígio. Dança para não ter poder. Tempo para entendermos o tempo.
Resumo Conceitual: vivências do espaço
O Grupo Zona de Interferência propõe a intervenção aCerca do espaço para poetizar a
vivência da cidade, por meio de dispositivos que buscam tensionar as fissuras que a “cidade
privatizada” provoca no espaço vivido. Interessa-nos construir uma poética que relacione a
concretude do espaço urbano com a forma como cada pessoa o vivencia, subjetivando-
se/subjetivando-o, uma vez que esse espaço revela-se, cada vez mais, a partir da esfera da
privatização e do consumo, da negação da diferença e da espetacularização da violência. Presente
no desenho e na representação simbólica a ele correspondente, o continente privado da vida é
apresentado, espetacularizado, desejado e gozado cotidianamente.
A importância que a esfera do privado vem tomando no tecido da cidade é visível. E está
presente desde a valorização do transporte individual, em carros carregando apenas um indivíduo,
até a onipresença dos shoppings (templos de consumo, aparência e homogeneidade; monumento
ao privado e ao totalitarismo soft de consumo nada soft), alcançando ainda a esfera da cultura
(fetichizada e demarcada, hoje, como território de marcas – produtos, pessoas – famosas, às quais
agrega valor). Neste processo, encontramos a experiência da rua, território próprio do público e
do político, como “residual”– a rua passa a ser uma fissura da cidade, o resíduo, indesejado,
daquilo que não se pôde privatizar.
Nesta proposta, desejamos tensionar a dimensão da alteridade que subjaz a esse processo
de privatização, posto que os processos de subjetivação produzidos nesta cidade contemporânea,
que entendemos como privatizada, parecem sofrer também um movimento de privatização.
Ainda assim, entendemos que qualquer reflexão sobre a relação cidade/subjetividade encaminha-
nos ao campo político, do mesmo modo como as intervenções urbanas atingem os modos de
subjetivação.
Segundo dados divulgados, a cidade de Salvador sofrerá, em breve, uma intervenção que
mostra-se cada vez mais comum: o monitoramento por câmeras de vídeo, uma velha-nova
tecnologia “orwelliana” de “repressão contra a criminalidade”. Para além de qualquer discussão
sobre a validade de tal mecanismo, consideramos importante pensarmos sobre as condições da
vida política na cidade controlada, bem como sobre os corpos que nela transitam, vigiados.
Cada espaço é habitado de várias formas. Adquire significações múltiplas, dependendo do
observador e de seu objetivo. Os espaços do centro da cidade são diferenciados em relação a
outras partes da cidade: há os que apenas transitam por ele, e há os que o vivenciam de maneira
intensa e diferenciada. São freqüentados não apenas por aqueles que ali moram, mas por milhares
de pessoas – que ali trabalham, que vão às compras, ou que simplesmente o atravessam para ir a
outro lugar. Para o público que faz dele seu cotidiano – moradores de rua, comerciantes,
seguranças, vendedores, desocupados –, estes não apenas enxergam o espaço de maneira distinta
daqueles que apenas passam por ele, a pé, de carro ou ônibus, mas também o ressignificam e
reconstroem.
Foras dos limites móveis do centro, outras significações se aplicam ao espaço, outras
formas de transitar. Dentro ou fora, dentro e fora, do centro da cidade, o espaço urbano é
sempre dispositivo de produção da vida pública, pois possui a dimensão do humano em todos os
seus cantos e em sua produção simbólica.
É o espaço público o espaço do conflito. Contudo, o mundo privado – cercar, controlar,
vigiar, conter, intensificar, produzir – propõe proteger-nos deste conflito que, por sua vez, é
ineliminável. É preciso, assim, tomar a cidade por seu movimento (pela forma como o espaço é
apropriado, produzido e reproduzido), não a perceber apenas por meio de seus aspectos
exteriores. Vivenciar a cidade, com suas cercas e muros, delírios de controle e segurança.
Materializar e tornar visível o que já se faz familiar e introjetado – subjetivado e desejado. Enfim,
entendemos que intervir nesse espaço é transformar sua vivência cotidiana.
A proposta da interferência “aCerca do espaço” é poetizar a relação de cada um com o
espaço que o cerca e com as cercas que construímos ao nosso redor. Cercamo-nos para não
sermos invadidos, para não sermos atingidos e atravessados. Para nos livrarmos do impoluto e do
indesejável. Com isso nos tornamos refratários ao desconhecido e ao próprio desejo do outro.
Ao construir as cercas que buscam impedir e acabam por negar ao outro, geramos uma falsa
impermeabilidade – a recusa de sermos atingidos pelo outro, exterior a nós. São cercas e muros
erguidos cotidianamente pelos muros reais e simbólicos, erguidos na espetacularização da
violência. Tornamo-nos reféns desse imaginário, de nossos medos e do que conhecemos.
Tolhemos a troca e a proximidade do outro – muitas vezes não a proximidade física, mas
justamente a subjetiva, a dimensão dos afetos: afetar-se.
A materialização da cerca é a concretização de nossas estratégias de privação de contato, de
aceitação do que é apenas semelhante a nós mesmos.
PROVE A GOSTOSA
Paying attention to the popular food sold on the streets in Salvador, this intervention was done selling a skewer mixing different ingredients, after the model of the grilled cheese street vendor.
A mobile grill was built on a suitcase´s trolley, where new unexpected skewers with sausage slices of German Rostbratwurst from Thüringen, where combined with tofu (soja beans cheese) pieces and the traditional cheese of Salvador.
This transnational mix on a skewer was offer to the people in the area of Rio Vermelho at Lago da Mariquita square, where a lot of food vendors offer their products to the people who gather for food and beers at nights.
UNIVERSO VOS REVI NU
de Jarbas Lopes, Katerina Dimitrova, Carla Melo
Resumo conceitual:
O significado etimológico da palavra “universo” é o de uma totalidade mas também remete a uma
unidade que gira, uma ciranda, uma roda e simultaneamente ao ato de unificar, virar um todo, ou
seja, fazer do fragmento uma parte integral da totalidade.
O palíndromo que entitula nossa inédita intervenção urbana também sugere o espelhamento do
Outro no Eu e do Eu no Outro ao passo que eles se tornam Nós, ou seja, um conjunto de corpos
que formam um corpo coletivo móvel. Já a inversão das letras e seus sentidos fonéticos e
semioticos sugerem a transgressão de códigos corporais e a exploração de novas formas de
relacionamento do corpo coletivo entre si, e com a cidade. Através de uma colaboração intensiva
com a comunidade local enfocaremos o processo relacional e a negociação das heterogeneidades
nessa formação de um corpo coletivo móvel, dentro do qual cada individuo agirá de cada vez
como o núcleo nú de uma roda de corpos vestidos. O corpo nú é vulnerável e de certa forma
simulltaneamente mais livre e mais limitado. Ele se despe no espaço íntimo de confiança criado
pelos membros do grupo e estes o “vestem” e o invisibilizam com seus próprios corpos, que por
sua vez, se fazem mais visíveis ao parecerem com o que André Breton chamaria de um corpo
poliformo amorfo. À medida que todos fazem parte do núcleo em um dado momento, o olhar
objetificante é desatividado e voltado para a tarefa de proteger o núcleo enquanto que o corpo
coletivo move-se dentro do universo caótico do urbano, desenhando uma corpografia própria.
Para além dessas expectativas conceituais, o enfoque é no processo relacional, na efemeralidade,
na interatividade com o meio, e na natureza imprevisível dos encontros e dos laços que essa
intervenção possa trazer.
Dinâmica da intervenção:
Um grupo de pessoas disposto em forma mais ou menos circular caminha lentamente pela cidade
protegendo visualmente uma pessoal que está nua, também movendo-se no centro do circulo. A
ênfase do movimento do grupo estará na interdependência e organicidade dos movimentos,
gestos e respirações e na resposta espontânea aos fluxos urbanos. A princípio os proponentes
(um de cada vez) ocuparão o centro, mas serão substituidos a cada momento pelas pessoas do
grupo (que se dispuserem a fazê-lo).