domingo, 30 de novembro de 2008

segredos trocados...universos revisitados

Segredos trocados...universos revisitados
O que acontece ao corpo quando ele passa duma urbe para outra? O que é que ele transporta e onde?
Chegar a Salvador, vinda de Montpellier com outras raízes agarradas aos músculos, foi uma das experiências corpocidadianas mais interessantes. Foi antes de tudo mais viver a própria temática do CORPOCIDADE, no meu próprio corpo; como, imagino, terá sido para todos uma experiência de corpo, palpável. Como foi no vosso corpo? Como ele se moveu durante essa semana? E depois?
O corpo - e quando digo corpo refiro-me a tudo o que através dele nos tece relações - mudou de velocidade, de textura, de consistência, de som. Ao permeabilisar-se houve choque, agitação molecular, fusão, tensão muscular, abertura e fecho dos poros...ir e vir, entrar e sair, afastar e aproximar. Talvez uma certa confusão na fisicalidade! Provavelmente por isso precisei de fazer ginásticas todas a manhas antes de ir para o corpocidade, para poder limpar, focar, afinar...como diz a Sofia Neuparth.
E nesse lugar de movimento nasceu a troca de segredos inusitada. Do que me ficou desta experiência na qual participei com grande felicidade , foi mesmo a atenção e o carinho que damos a um lugar, à curiosidade de receber “exteriores” vários, e como ai pode ou não acontecer comunicação, troca, vitalidade, e inscrição. E isso começou na forma como as proponentes me levaram com elas para a rua de Salvador. Como ouvimos (mesmo com as orelhas e com a pele!), o que o corpo de um lugar nos conta, e o que fazemos com isso. As palavras e os gestos dos contadores de segredos fazem parte duma malha de matéria urbana de Salvador, são Salvador. Que segredos queríamos ouvir? Até onde nos deixamos levar pela aventura de sermos apenas veículos dessa malha e não mais a origem do nosso próprio desejo? Com que velocidade aceitamos incorporar e ser incorporados e que é que isso tece na qualidade da comunicação que acontece nos interstícios.
Num outro lugar de movimento incorporei o Universo vos revi nu. Aqui o meu corpo se pôs alerta, instintivamente protegendo algo que de forma contraditória não queríamos dar a ver e queríamos que fosse visto... foi muito interessante não estar muito a par das intenções dos proponentes e deixar que o meu corpo responda e se adapte. Por vezes senti-me fora do lugar enquanto estava no anel poético dos vestidos! E aqui me parece importante mais uma vez questionar? O que foi para cada um desses corpos estar ali protegendo, atraindo, se despindo e sentido adrenalina, gerindo o espaço em volta? O que foi provocar ? E então o que foi que se comunicou pelo corpo aos corpos em volta? O que se questionou realmente? O que trouxe esse corpo colectivo para aquele espaço? O que é que um espaço pede como intervenção artística? Como prestamos atenção nisso e o que comunicamos realmente? Mais do que discutir as reaçcões dos habitantes, que, a meu ver, e como alguém também mencionou, são perfeitamente previsíveis (!), falar sobre como ouvir um espaço e como ai nos relacionamos com os habitantes e portanto com a cidade, me parece vital. E ai pode nascer o conflito, a discussão, o fervor do que se provoca talvez...os tais afectos.
Do fundo do meu corpo, participar de CORPOCIDADE esta a ser muito rico e fértil! Ficou o estimulo à reflexão e uma certa comichão criadora de movimento! Bom fim de domingo. E obrigada a todos e todas!
Sara Jaleco.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Espaço reservado para propaganda - Imobiliária Coringa

Lançamento do Stand decorado da Ilha Móvel da imobiliária Coringa! Excelente localização e diversas opções de plantas.
Entrega em julho de 2012. Diversos tamanhos de apartamentos: -63,28m2 - ¼ e quarto reversível -71,30m2... infantil bebê - Pista de velotrol - Casa de boneca - Parque infantil aventura - Praça de leitura - Praça de meditação - Sala... condomínio - Churrasqueira - Quiosque - Espelho d água com deck e o mais importante: visão marítima a 360 graus!!!!Uma paisagem natural a cada janela! Um sonho que pode ser realizado!
Lembramos que existem descontos especiais para a comunidade européia! Porque aqui, seu euro vale mais!!!!
O lançamento do Stand, aconteceu dia 31 de outubro, no Porto da Barra e contou com a apresentação de importantes nomes da música baiana!
Entre em contato conosco, os cem primeiros emails ganharão uma exclusiva visita de arco
a todos os locais onde se desenvolverão nossos próximos empreendimentos de sucesso!
imobiliariacoringa@gmail.com

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Durante a intervenção do Troca de Segredos descobrimos que alguns segredos não estavam prontos. Eles aconteceram, surgiram na conversa, no bate papo que incitamos ao perguntar: quer trocar um segredo? Alguns desconfiam, outros logo contam e tem os que revelam não ter segredos. Todas essas respostas nos lançam desafios, diferentes desafios. Como enfrentar a inexistência dos segredos? Como tirar uma história do âmbito pessoal e jogá-la na impessoalidade? Como narrar o brilho no olho e o cabelo branco que estão acontecendo na troca, mas que muitas vezes não reverberam em quem depois lê o segredo? Todos são desafios proporcionados pela experiência que fez com que nos encontrássemos com Salvador.
Mas porque nos dispomos a encontrar de tal forma essa cidade? O que queremos com os segredos? O que nos move? O que queremos ao propor alguma intervenção? São boas perguntas para confrontarmos com as que surgem depois de intervir: o que disparamos com as nossas intervenções? Que tipos de afetos são disparados e como lidamos com eles? Que recados à cidade nos dá?
Enfim, esse coletivo que chamamos de corpocidade foi às ruas perguntar muitas coisas. Salvador responde... O que queríamos?
O que Salvador afirmou? Que questões Salvador disparou?














































Troca de Segredos
















quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Retirada do Varal

De : Pedro Britto 

Meus queridos,
o varal foi removido hoje, segunda-feira dia 11 de novembro, lua cheia. 
A notícia me chegou agora.
 
Não foram utilizados os andaimes e a pessoa contratada para o serviço não participou da ação. 
Ele foi retirado com uma escada e uma faca pela equipe de funcionários da administração do Dique.

As roupas foram distribuídas no local e juntou muita gente. 
 
Agradeço a todos, sobretudo Lourival, por tudo que foi o processo "varal". 
Queria dizer-lhes que adorei poder participar, achei lindo na paisagem e que ele protagonizou lances incríveis em muitas esferas diferentes e reveladoras dos corpos e da cidade de Salvador.
 
Abraços meus, Pedro.
 
PS. Alguém esteve lá no horário da retirada e registrou. Segundo Sr. Everaldo - administrador do dique - este alguém se identificou como sendo do IPHAN. Ele e eu não estávamos lá na hora, mas adoraria ver este registro!PS2. Reproduzo a mensagem que me chegou junto com a confirmação da retirada.

----- Original Message ----- 
From: EXÚ dos correios   
Salvador, 11 de novembro de 2008. 

MANIFESTO pelo uso do Dique do Tororó 
Aos "poderes" 
supra
-municipais, na pessoa de não sei quem (?); 
Sou Maria José, residente aqui da Boa Vista há mais de 40 anos, conheci esse bairro ainda pequeno e tranqüilo. Hoje, sou  líder do sindicato de lavadeiras do Alto da Boa Vista, uma entidade muito respeitada e quero relatar uma história que aconteceu por muitos anos, quase uma vida inteira de crianças e mulheres aqui dos arredores. Logo cedo, o dia ainda fresco,  ali no início da Ladeira da Ajuda reuniam muitas  mulheres e suas crianças, todas desciam de trouxa na cabeça, sacola de sabão, baldes e cestos de palha até a Fonte do Dique pra lavar roupa de uma numerosa clientela, gente de outras regiões da cidade mandavam suas roupas pra gente cuidar.  Assim aconteceu até que as trouxas de roupa não desciam mais pro Dique, ficam agora dentro da nossa casa, com pouco espaço, sem a brisa boa e as prosas todas que aconteciam no meio de tanta gente trabalhando, e que dirá daqueles cantos que embalavam a lavagem de roupa, quando a manhã corria como nem água fresca. Ali, muita menina moça aprendeu a lavar roupa, muita conversa fiada de marido desapegado, de criança adoentada, de receita novidadeira, de convite de caruru, de praga de santo que pega e de milagre de santo que alivia. Hoje, lavadeira trabalha sozinha, perdeu espaço para a máquina de lavar e  com pouca divulgação do nosso trabalho, fechado dentro de casa, a clientela acabou diminuindo demais. 
Por isto tudo, temos uma séria solicitação com os poderes municipais, queremos retornar ao Dique, fazer dali nosso espaço de trabalho e fortalecer nossa profissão. Do jeito que vai, lavadeira não vai ter mais espaço na cidade. Como aconteceu lá na Lagoa do Abaeté, as lavadeiras hoje têm a Casa das Lavadeiras, fazem um trabalho ecológico e não usam mais a água da Lagoa. Está certo que mudou muita coisa, mas pelo menos elas têm direito de continuar trabalhando em grupos, no mesmo lugar que sempre gostaram e viveram, umas ajudando às outras e já pensam até em uma creche para seus filhos. 
Nós aqui da Boa Vista pensamos em um deque de madeira em cima do Dique, quem sabe um lugar bem aberto e arejado, mas com cobertura,  
onde poderemos até passar as roupas, sair dali com a trouxa pronta pra entregar e não sofrer tanto com o sol e a chuva. Um fato recente chamou nossa atenção e achamos que isso só veio fortalecer nosso movimento, um grande varal de roupa está estendido ali no Dique, vai de uma ponta à  outra e ficou lindo demais, só fez aumentar nosso entusiasmo. Disseram que é obra de arte  e o artista pendura varal em várias cidades no mundo, já foi para o exterior e até a Fundação de Cultura da Bahia apoiou. Para nós aqui do sindicato, foi  uma homenagem quando vimos aquele varal lindo estendido no Dique. Achamos que a hora é essa, aproveitar o varal e esticar outros mais para que possamos secar as roupas de nossa clientela. Nosso trabalho terá uma divulgação melhor e ainda poderemos trabalhar num lugar mais agradável, que os quintais apertados de nossas casas. 
Por todos estes motivos aguardamos uma resposta dos poderes supra-municipais. Queremos providências e estamos fortalecidas agora com apoio de artistas plásticos e as lavadeiras do Abaeté, não calaremos nossa reivindicação. Queremos mais varais, tanques e um bom ambiente para que nossa profissão continue sustentando tantas famílias baianas como já acontece há mais de um século. 
Aguardamos uma providência. 
Maria José
 das Águas.
 

terça-feira, 11 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Zero Grau - Monumento Mínimo em Florença



De: Néle Azevedo
Caríssimos, gostaria de somar minha experiência de participar do Corpocidade (ADOREI!!!!!)  e de realizar ações urbanas pelo mundo à fora. No link abaixo está o Zero Grau que reúne algumas dessas ações .
 
 
Juntei também imagens da ação realizada em Florença no dia 21 de outubro de 2008. Este trabalho foi especialmemte difícil por conta da barreira burocrática  em Florença. Fomos conseguindo vencer a burocracia e realizar o trabalho  pelas margens.Só ao final de dez dias de negociações, conversas e desencontros conseguimos  colocar dois congeladores num espaço físico: Albergo Populare La Fenice. Este Albergue abriga sem tetos, sem pátria, ex presidiários, enfim, foi nas margens que conseguimos realizar o trabalho, fazendo mil esculturas em gelo.
O dia da ação coincidiu com uma grande manifestação contra a privatização do ensino público na Itália, o que foi uma felicidade pois havia cerca de 2mil pessoas  na Piazza della Santissima Annunziata.
Ao final da manifestação, às 13hs, entramos com os congeladores na praça e o Monumento Mínimo foi construído nas escadarias  do Instituto del Inocenti, obra de  Bruneleschi,  pela população que estava na praça.
 
 

MOTO CONTÍNUO (2)

Por: Néle Azevedo 

Bem, finalmente paro por um momento para escrever  a experiencia de participar como testemunha na intervenção de Gabriela Tarcha.
No domingo, dia 2/11, estava no porto da barra e caminhava à procura de um ponto de onibus para ir embora pra arrumar as malas e voltar a São Paulo. Fui surpreendida pela visão do Fernando do outro lado da rua, na beira da calçada num movimento de atravessar na faixa de pedestre. O movimento era banal, uma passo que pisa na faixa e retorna, num movimento de vai e vem.
Contente por encontrá-lo perguntei-lhe se iria atravessar e ele respondeu que não. Atravessei e ele continuou no mesmo movimento ritmico, numa especie de balanço de uma perna pra outra. Ali ficamos por um tempo, eu entrei no movimento com ele para conversarmos no mesmo ritmo. Tratava-se da performance Moto contínuo.
A policia havia chamado o SAMU tomando-o por louco. Foram muitas explicações a diversos policiais e transeuntes que observavam o Fernando no mesmo movimento durante  três ou quatro horas, não sei ao certo. Os observadores estavam sentados num bar em frente e lhe ofereceram água, água de coco, cerveja, etc.
 
O que me chamou muito a atenção nesse pequeno gesto repetido foi a simplicidade do recorte desse movimento banal, no sentido de comum, cotidiano, que nessa repetição ganhava um ritmo e surpreendia a todos e a surpresa estava exatamente na continudade do movimento, só quem observava por algum tempo se intrigava com o gesto iniciado e repetido para atravessar na faixa de pedestres.
 
Uma rua não atravessada, um gesto banal repetido a exaustão, e nenhuma fotografia, nenhuma imagem, só a experiencia do vivido.
 
Voltei pra São Paulo atravessada por essa experiência, experiencia de testemunha do acontecimento sem imagens para mostrar, sem documentos em vídeos. 
Venho pensando a algum tempo nessa radicalidade de não documentar as minhas ações no espaço urbano, de suportar a efemeridade, de apenas ter vivido.
Parabéns Gabriela, foi um feliz encontro com o seu trabalho.

-----

moto contínuo – exhaust it on (working title): 

 

 

a cidade como corpo intenso, incansável, incompreensível, perambulante 

o corpo enquanto fluxo inquietante que se manifesta publicamente 

o público como público, público da cidade, público uns dos outros, e não menos público privado 

a cidade que se demora a esquecer pois tem a memória impressa no corpo 

o corpo indelével, indomável, inexorável 

projeto presente passando pelo meio do público passante 

a cidade afeita aos afetos e artefatos 

corpos-corporificando-corporeidades 

outras  

a cidade toda errante 

contenciosamente coexistindo 

cedendo sedenta 

corriqueiramente 

turbulências corporais 

recompondo-se  

 

 

Gabriela Tarcha 

sábado, 8 de novembro de 2008

JOGO EIA em SP

De : priscila lolata 

JOGO EIA 2008
O EIA - Experiência Imersiva Ambiental- convoca todos os interessados a participar da SEMANA DE IMERSÃO que acontecerá entre 5 a 14 de dezembro na cidade de São Paulo.
Na edição 2008, o EIA propõe um JOGO urbano no espaço público.
A cidade é o nosso TABULEIRO e a ênfase do JOGO é a experiência da participação,a descoberta criativa da cidade como espaço de vivência e socialização.

O EIA este ano não receberá projetos fechados. A idéia é que cada pessoa venha para jogar e criar coletivamente.
Cada um dos inscritos será um JOGADOR e poderá trazer uma mochila com materiais e idéias para utilizar durante a semana.
Elementos para performances e intervenções, lambes, panfletos,instalações e também materiais para uma rede de trocas, tudo o que possa contribuir para uma vivência e a construção coletiva desse JOGO.

REGRAS DO JOGO
O JOGO já começou e novos JOGADORES podem entrar a qualquer instante.
O JOGO não é competitivo.
Todas as regras podem mudar.
O processo coletivo define a regra.

O JOGO é aberto. Os JOGADORES estão diretamente implicados na sua construção.
Um dos objetivos do jogo é criar novas formas de sociabilidade na cidade e se movimentar segundo as regras criadas pelo coletivo, que deverá explorar e criar as várias camadas de possibilidades na urbes.

SEMANA DE IMERSÃO
Acontece de 05 a 14 de dezembro.
Os dias de ação se alternam em DERIVAS TOTAIS, imersão nos TERRITÓRIOS ANFITRIÕES e TERRITÓRIOS MÓVEIS.

INSCRIÇÃO
Os interessados devem enviar por email para o endereço
2008eia@gmail.com  
http://mapeia.wordpress.com/

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

PAISAGEM AMBULANTE em BH

De : monique sanches


Ola pessoal do Corpocidade,
Em primeiro lugar "parabéns" e "obrigada" pelo trabalho que fizeram...pelas situações que construiram.
Em segundo...recebi um convite de Paola para participar do blog e gostaria de postar o arquivo em anexo, mas não estou conseguindo. Vocês podem me ajudar? Trata-se da divulgação de um conjunto de ações performaticas que acontecera essa semana em Belo Horizonte. Acho que os mineiros que participaram do Corpocidade terão interesse.
Grande abraço a todos,
Monique.


terça-feira, 4 de novembro de 2008

Obra Limpa



























Na sexta-feira, dia 31 de outubro, Rodrigo Paglieri e Thiago Enoque realizaram, embaixo do viaduto da avenida do Contorno, próximo à praça Castro Alves, em Salvador, uma versão da OBRA LIMPA de Paglieri carinhosamente apelidada de "Tá osso".
A intervenção constituiu na limpeza das paredes do túnel, o que resultou no surgimento de vários ossos desenhados em negativo devido à poluição e à pintura anteriormente realizada pela prefeitura.
O ambiente era consideravelmente insalubre, com muita sujeira de diversos tipos [o local serve de banheiro e fumódromo de crack] e também um tanto quanto perigoso.
Um aspecto interessante desta OBRA LIMPA é que as paredes do túnel haviam sido pintadas com tinta à base de água e, à medida que Rodrigo e Thiago as foram limpando com água e detergente, cores de graffiti que estavam encobertos pela tinta ocre emergiram, provocando o surgimento de diversos ossos multicoloridos em toda a extensão do túnel, ao lado da via para pedestres.
Muitas pessoas passaram por nós naquela tarde [além dos dois artistas, estávamos eu, fotografando, e Rebelde, dando uma força na segurança], e as trocas que ali se estabeleceram com diversos passantes foram uma parte importante do processo.
O local é, como eu disse anteriormente, bastante sujo, e algumas pessoas atravessaram o túnel com os pés descalços. Cenas tristes de uma cidade deslumbrante.
Muitos contrastes entre luz e sombra.
Na entrada do túnel, uma pixação em um poste dizia tudo: "EXU"

Em breve mais fotos no endereço flickr.com/photos/bee131

É com água que se limpa!

abraxxxx
Deborah Pennachin

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Chão nas Cidades

O Chão nas cidades em Salvador foi absolutamente surpreendente. O ato de cair no chão das cidades - por não estar identificado com nenhuma ação plástica coreográfica ou teatral - cria uma suspenção que faz com que os transeuntes resignifiquem esse gesto a luz de suas percepçòes coletivas e pessoais. Em Salvador, no entanto, além do gesto da queda produzir inúmeras falas como: "Isso é uma manifestação da preguiça contra o trabalho". "Eles vieram de Sào Paulo andando e caíram aqui. Estão caídos pela Bahia toda"e "Eles estão assim pra que a gente olhe por outro ângulo, por baixo, de outro jeito" - também fomos surpreendidos por inúmeros gestos concretos como um grupo de evangélicos que retiraram um demônio de um dos corpos, dois típicos coronéis do interior que retiraram o corpo da menina que estava deitada no chão, colocaram num banco de praça e fizeram bloqueio com o próprio corpo impedindo que a filmassem. E ainda na escada da lapa, um passante que retirou três vezes com força um corpo do chão enquanto reclamava indignado que ele não poderia ficar alí. O detalhe abasolutamente contraditório, é que alguns metros dele estava o corpo de um mendigo deitado absolutamente invisível pra todos os presentes.
Acontecimentos da Intervenção de 25 de outubro, por Andrea Maciel

domingo, 2 de novembro de 2008

URBANda - O Santo Goethe





quarta-feira

The site specific intervention "O Santo Goethe" intends to provoke a reflection on the role and presence of religion in public every day life. Coming from Weimar, a German city where religion is almost invisible - despite churches perceived as relics from ancient times - a significant difference can be experienced in Salvador. The proposed urban intervention is based on the experience of an overwhelming presence of religiousity of various beliefs in the city of Salvador and on the idea of syncretism of Candomblé. A procession is carried out with elements from Catholicism in honor of the "saint" of Weimar, the poet Johann Wolfgang von Goethe, who is crutial for Weimar's present search for identity. The path of the procession leads from a shopping mall over high way bridges towards a universal church. Reactions are to be provoked.

Varal (2)










Varal 

 

O Varal  é uma intervenção urbana natural para as pessoas que moram no 

bairro de Santo Amaro, no Recife. Este bairro fica na marginal de uma grande 

avenida, Agamenon Magalhães, e lá as pessoas se apropriam do espaço 

urbano para secar as roupas. Vários varais modificam a paisagem urbana 

com intuito basicamente funcional. A reutilização desta atitude estética 

despretensiosa dos moradores, dimensionando-a de forma gigantesca num 

lugar inusitado, é o mote inicial desta obra. Ela já foi apresentada em: 

 

Recife, PE (SPA das artes/2003),  

Olinda, PE (premiada no Arte em toda Parte/2003-04),  

Rio de Janeiro, RJ (Paço Imperial / 2004), 

Porquerolles no sul da França (projeto Pernambuco!  Art contemporain / 

culture populaire, ano do Brasil na França / 2005),  

Parque do Ibirapuera, SP (Rumos / Itaú Cultural – 2006),  

Vitória do Espírito Santo (premiado no Salão do Mar – 2006), 

Av. Paulista, SP totalmente clandestino (6 de junho de 2006), 

Morro Babilônia, RJ (projeto redes da Funarte a da Associação de 

Moradores da Babilônia) 

Weimar, Alemanha (na exposição coletiva “Die Kunst erlöst uns von gar 

nichts, Künstlerpositionen aus Südamerika”, “A arte não nos libera de 

absolutamente nada” , jul. – set. 2006).  

Recife, PE (Instituto Cultural Banco Real jun./2007),  

 

Em todos esses lugares, causou estranhamento no público passante, 

levando-o a questionamentos muitas vezes restritos ao circuitos de galerias e 

espaços culturais.  

 

A obra e a cidade interagem mais ainda com a coleta de roupas usadas 

que é feita a partir de uma panfletagem no próprio lugar pedindo 

doações aos seus habitantes. Esta ação inclui um significado de 

memória, pois as pessoas geralmente doam roupas que têm um valor 

especial em sua historia de vida. Todo este processo é registrado em fotos e, 

às vezes, também em vídeo. 

 

Um dos que mais gostei de fazer foi o do morro Babilônia.  O morro fica por 

trás do Bairro do Leme no Rio de Janeiro. Existem outros varais lá. Trabalhei 

uma semana e os moradores se envolveram no ato de estender roupas numa 

corda de 170 metros.  

 

lourival cuquinha, domingo, 29 de junho de 2008 

 

 fotos Paola Berenstein Jacques (Dique do Tororó - Salvador)

campanha base para unhas fracas (2)

fotos Paola Berenstein Jacques (clique em cima da imagem para ampliar)








Contexto “Base para Unhas Fracas”: Cidade, paisagem, mídia externa 

 

Existe uma cidade ideal, desenhada por arquitetos e urbanistas. Para além disso, seus 

habitantes constroem sua visualidade, agindo e permitindo sua transformação 

espontaneamente sob bases de tolerância e bom senso.  

Essa visualidade configura a cultura visual do lugar onde milhares de pessoas convivem. 

A cultura visual de uma cidade grande é parte efetiva da noção de Paisagem que seus 

habitantes formam a cerca do lugar onde vivem.  

 

Há tempos se percebeu, que a publicação do Capital só se faria de forma extensa e 

triunfante caso a imposição de sua marca abarcasse a escala do cotidiano. E a tomada 

das ruas, como o novo ground simbólico, se deu de forma natural e permissiva pela 

imagem-mensagem e sua recém-criada ciência

As relações entre imagem e informação se estreitaram não deixando espaço para a 

subjetividade e os devaneios que permeiam a contemplação nos espaços de convívio. 

 

Essa transformação foi absorvida e diluída no corpo social. Aos poucos os locais 

“ociosos” passam a ganhar função, pois, diante de uma cidade que cresce sob 

parâmetros de produtividade, todo e qualquer mobiliário urbano é passível de 

transformação, contanto que isso gere dinheiro.  

A tomada do espaço público é feita diante de um público amortizado. A privatização do 

espaço de convívio convive com a subjetividade dos padrões de poluição visual.    

 

O ser humano tolera tudo, desde que aos poucos.  

 

Portanto a transformação do espaço público das cidades, quase sempre, se dá de forma 

gradual – quase pedagógica - avalizada pelos responsáveis de sua manutenção: os 

representantes do poder público.  

 

A adequação do mobiliário urbano às regras do capital é um exemplo da transformação 

da paisagem das cidades em grandes corredores de publicidade estática. 

As imagens veiculam aquilo que o espectador-pedestre quer vê. Campanhas publicitárias 

são precedidas por pesquisas de opinião que estabelecem a conformação dos elementos 

simbólicos contidos nas imagens.  

Isso produz a sensação de prazer e deleite aos consumidores em potencial, capturados 

pela força de composições sofisticadas e bem produzidas.  O julgamento estético recobre 

o julgamento ético nesse grande campo simbólico que se transformou a paisagem 

imagética das cidades. 

 

Dessa forma, recorro a uma imagem ordinária que, veiculada junto a um vidro de esmalte 

de unha, reproduz uma campanha publicitária de um cosmético. 

A escolha deste segmento deve-se a fetichização da imagem da mulher em campanhas 

dessa (e outras) natureza como apelo de consumo. Assim, imprimo as mãos de uma 

mulher casada, com unhas pintadas de vermelho, sobre imagem manipulada que faz 

alusão ao órgão sexual feminino. 

 

Parafraseando tais estratégias utilizo, grosseiramente, a imagem feminina alargando os 

padrões de aceitabilidade e bom senso utilizado nestas campanhas. Viso, com isso, 

estimular o pedestre amortizado a refletir sobre tais artimanhas utilizadas no mercado de 

forma subliminar, fazendo com que ele associe o mesmo procedimento em outras 

campanhas, feitas à vera, mas encobertas por recursos estéticos que ameniza a 

ilegalidade de suas ações. 

 

A imagem contida, na verdade, trata-se de um conjunto de partes do corpo humano, 

alterados e reunidos digitalmente com a intenção de simular um conteúdo erótico, 

belicoso e, até mesmo, escandaloso. 

No entanto a associação natural que se faz não condiz com a natureza original da 

imagem. Como disse, trata-se de uma manipulação, realizada por design gráfico, que 

trabalhou para a obtenção desse resultado. Resultado que põe em prova os níveis de 

tolerância do pedestre, solicitando uma reação a esse e outros produtos que cooptaram a 

paisagem da cidade a revelia do poder público. 

 

Alexandre Vogler. 2008