domingo, 30 de novembro de 2008

segredos trocados...universos revisitados

Segredos trocados...universos revisitados
O que acontece ao corpo quando ele passa duma urbe para outra? O que é que ele transporta e onde?
Chegar a Salvador, vinda de Montpellier com outras raízes agarradas aos músculos, foi uma das experiências corpocidadianas mais interessantes. Foi antes de tudo mais viver a própria temática do CORPOCIDADE, no meu próprio corpo; como, imagino, terá sido para todos uma experiência de corpo, palpável. Como foi no vosso corpo? Como ele se moveu durante essa semana? E depois?
O corpo - e quando digo corpo refiro-me a tudo o que através dele nos tece relações - mudou de velocidade, de textura, de consistência, de som. Ao permeabilisar-se houve choque, agitação molecular, fusão, tensão muscular, abertura e fecho dos poros...ir e vir, entrar e sair, afastar e aproximar. Talvez uma certa confusão na fisicalidade! Provavelmente por isso precisei de fazer ginásticas todas a manhas antes de ir para o corpocidade, para poder limpar, focar, afinar...como diz a Sofia Neuparth.
E nesse lugar de movimento nasceu a troca de segredos inusitada. Do que me ficou desta experiência na qual participei com grande felicidade , foi mesmo a atenção e o carinho que damos a um lugar, à curiosidade de receber “exteriores” vários, e como ai pode ou não acontecer comunicação, troca, vitalidade, e inscrição. E isso começou na forma como as proponentes me levaram com elas para a rua de Salvador. Como ouvimos (mesmo com as orelhas e com a pele!), o que o corpo de um lugar nos conta, e o que fazemos com isso. As palavras e os gestos dos contadores de segredos fazem parte duma malha de matéria urbana de Salvador, são Salvador. Que segredos queríamos ouvir? Até onde nos deixamos levar pela aventura de sermos apenas veículos dessa malha e não mais a origem do nosso próprio desejo? Com que velocidade aceitamos incorporar e ser incorporados e que é que isso tece na qualidade da comunicação que acontece nos interstícios.
Num outro lugar de movimento incorporei o Universo vos revi nu. Aqui o meu corpo se pôs alerta, instintivamente protegendo algo que de forma contraditória não queríamos dar a ver e queríamos que fosse visto... foi muito interessante não estar muito a par das intenções dos proponentes e deixar que o meu corpo responda e se adapte. Por vezes senti-me fora do lugar enquanto estava no anel poético dos vestidos! E aqui me parece importante mais uma vez questionar? O que foi para cada um desses corpos estar ali protegendo, atraindo, se despindo e sentido adrenalina, gerindo o espaço em volta? O que foi provocar ? E então o que foi que se comunicou pelo corpo aos corpos em volta? O que se questionou realmente? O que trouxe esse corpo colectivo para aquele espaço? O que é que um espaço pede como intervenção artística? Como prestamos atenção nisso e o que comunicamos realmente? Mais do que discutir as reaçcões dos habitantes, que, a meu ver, e como alguém também mencionou, são perfeitamente previsíveis (!), falar sobre como ouvir um espaço e como ai nos relacionamos com os habitantes e portanto com a cidade, me parece vital. E ai pode nascer o conflito, a discussão, o fervor do que se provoca talvez...os tais afectos.
Do fundo do meu corpo, participar de CORPOCIDADE esta a ser muito rico e fértil! Ficou o estimulo à reflexão e uma certa comichão criadora de movimento! Bom fim de domingo. E obrigada a todos e todas!
Sara Jaleco.

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