Contexto “Base para Unhas Fracas”: Cidade, paisagem, mídia externa
Existe uma cidade ideal, desenhada por arquitetos e urbanistas. Para além disso, seus
habitantes constroem sua visualidade, agindo e permitindo sua transformação
espontaneamente sob bases de tolerância e bom senso.
Essa visualidade configura a cultura visual do lugar onde milhares de pessoas convivem.
A cultura visual de uma cidade grande é parte efetiva da noção de Paisagem que seus
habitantes formam a cerca do lugar onde vivem.
Há tempos se percebeu, que a publicação do Capital só se faria de forma extensa e
triunfante caso a imposição de sua marca abarcasse a escala do cotidiano. E a tomada
das ruas, como o novo ground simbólico, se deu de forma natural e permissiva pela
imagem-mensagem e sua recém-criada ciência.
As relações entre imagem e informação se estreitaram não deixando espaço para a
subjetividade e os devaneios que permeiam a contemplação nos espaços de convívio.
Essa transformação foi absorvida e diluída no corpo social. Aos poucos os locais
“ociosos” passam a ganhar função, pois, diante de uma cidade que cresce sob
parâmetros de produtividade, todo e qualquer mobiliário urbano é passível de
transformação, contanto que isso gere dinheiro.
A tomada do espaço público é feita diante de um público amortizado. A privatização do
espaço de convívio convive com a subjetividade dos padrões de poluição visual.
O ser humano tolera tudo, desde que aos poucos.
Portanto a transformação do espaço público das cidades, quase sempre, se dá de forma
gradual – quase pedagógica - avalizada pelos responsáveis de sua manutenção: os
representantes do poder público.
A adequação do mobiliário urbano às regras do capital é um exemplo da transformação
da paisagem das cidades em grandes corredores de publicidade estática.
As imagens veiculam aquilo que o espectador-pedestre quer vê. Campanhas publicitárias
são precedidas por pesquisas de opinião que estabelecem a conformação dos elementos
simbólicos contidos nas imagens.
Isso produz a sensação de prazer e deleite aos consumidores em potencial, capturados
pela força de composições sofisticadas e bem produzidas. O julgamento estético recobre
o julgamento ético nesse grande campo simbólico que se transformou a paisagem
imagética das cidades.
Dessa forma, recorro a uma imagem ordinária que, veiculada junto a um vidro de esmalte
de unha, reproduz uma campanha publicitária de um cosmético.
A escolha deste segmento deve-se a fetichização da imagem da mulher em campanhas
dessa (e outras) natureza como apelo de consumo. Assim, imprimo as mãos de uma
mulher casada, com unhas pintadas de vermelho, sobre imagem manipulada que faz
alusão ao órgão sexual feminino.
Parafraseando tais estratégias utilizo, grosseiramente, a imagem feminina alargando os
padrões de aceitabilidade e bom senso utilizado nestas campanhas. Viso, com isso,
estimular o pedestre amortizado a refletir sobre tais artimanhas utilizadas no mercado de
forma subliminar, fazendo com que ele associe o mesmo procedimento em outras
campanhas, feitas à vera, mas encobertas por recursos estéticos que ameniza a
ilegalidade de suas ações.
A imagem contida, na verdade, trata-se de um conjunto de partes do corpo humano,
alterados e reunidos digitalmente com a intenção de simular um conteúdo erótico,
belicoso e, até mesmo, escandaloso.
No entanto a associação natural que se faz não condiz com a natureza original da
imagem. Como disse, trata-se de uma manipulação, realizada por design gráfico, que
trabalhou para a obtenção desse resultado. Resultado que põe em prova os níveis de
tolerância do pedestre, solicitando uma reação a esse e outros produtos que cooptaram a
paisagem da cidade a revelia do poder público.
Alexandre Vogler. 2008
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